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Foto do escritorPsicólogo Flávio Torrecillas

A Intuição da Vítima no Ciclo de Abuso

Existem várias etapas dentro de um ciclo abusivo, tanto dentro do ciclo quanto na recuperação do abuso vivido.

A vítima passa por muitas coisas dentro de um relacionamento abusivo e, quando ela sai desse relacionamento, ela começa uma jornada que também é cíclica e um dos sentimentos que toma conta dessa vítima é a CULPA.


A pessoa passa a ter um sentimento de culpa por não ter dado importância para a sua intuição. Essa intuição apareceu lá no início do relacionamento sempre como uma forma de alertar a vítima de que tinha algo errado com aquela pessoa que ela estava se envolvendo. Ficar remoendo, se culpando por não ter dado a devida atenção para a sua intuição não vai ajudar na recuperação. A pessoa sente que aconteceu um equívoco pois houve um "alarme" avisando que algo estava errado e ela simplesmente ignorou esse alerta, ignorou os sinais.


A intuição da vítima é muito sutil, ela tem a percepção de que tem alguma coisa errada porém, se ela se apoia em coisas que existem dentro dela, na confiança que ela tem, no que ela pensa, nas coisas que ela fala, na noção que ela tem das coisas e ela confronta a intuição com essas referências que ela tem dentro dela, ela começa a se questionar se as referências, a noção sobre valores, respeito, sobre o que ela quer, sobre o que ela não quer, a carência acabaram passando despercebidas porque chegou uma pessoa "tão perfeita" e que, de repente, tomou conta da vida da vítima.

A vítima passa a ter em mente a seguinte frase: "está tudo parecendo muito estranho mas acho que é aqui (dentro do relacionamento) que eu quero ficar".


Quando falamos de narcisistas estamos falando de um jogo mental onde a vítima, para não cair nas armadilhas desse abusador, precisa desenvolver uma defesa psíquica e essa defesa vem justamente com essa intuição que são coisas que a vitima sabe, coisas que a vítima pensa, coisas que mantém a vítima firme ''mas por que ela não se ouviu? ''


Estamos falando de um ciclo de abuso rodeado de culpa o tempo todo pois é isso o que o narcisista faz. A culpa, paralisa a vítima. Toda a pessoa que comete um equívoco, acaba se educando. A pessoa analisa o que foi que aconteceu para ter se equivocado.


Olhar para esse equívoco de uma maneira mais leve, mais amorosa, é o que faz toda a diferença no processo de recuperação e, até mesmo, de preparo para experiências futuras para quando a intuição "falar" novamente a vítima possa perceber que "o que vem dela", "a voz interior", "a intuição" tem importância sim!

Por que será que quando o "alarme" vem de outras pessoas a vítima escuta e presta atenção mas quando a intuição grita dentro dela ela não dá importância?


Esse é um processo de AUTOCONHECIMENTO, de fortalecimento, de ficar mais atenta aos sinais e juntar com outras informações para entender o que ela está passando. Uma coisa é certa num relacionamento abusivo: a história não poderá ser refeita, a vítima não poderá ficar se punindo por não ter ouvido a sua intuição.


A vítima precisa olhar para o abuso que ela viveu e tentar entender o que foi que faltou:


"faltou autoestima?",

"faltou informação?",

"faltou saber o que ela queria?",

faltou saber o que ela não queria?",

"faltou saber quais eram os limites?",

"faltou saber dizer NÃO?",

"faltou se acolher?",

"faltou conversar com alguém, se abrir para alguém?"


O que foi que faltou? O pensamento intuitivo é muito rápido, é automático e subconsciente.


Quando a vítima está lidando com o narcisista na etapa do "love bombing", ela está sendo super estimulada de uma maneira muito convincente em seus 5 sentidos.

A vítima vê, cheira, toca, come, ouve coisas que são muito legais e ela fica confusa pois esses 5 sentidos fazem a pessoa entender que o abusador "é uma pessoa bacana" mas, dentro dela, ela percebe que não, ele não é uma pessoa boa - e inicia um confronto dentro dessa vítima justamente por ter um certo medo de estar "julgando o abusador precipitadamente".


É muito difícil confiar na parte instintiva que surge porém, quanto mais informações a pessoa tiver sobre o transtorno de personalidade narcisista, mais será trabalhado o instinto dessa pessoa. A parte instintiva consegue detectar algo que os demais sentidos não conseguem como, por exemplo, as microexpressões faciais.


Quando a pessoa encontra e conversa com um narcisista, por mais que ele esteja sorrindo, tratando a pessoa bem, pedindo a melhor comida, abraçando as microexpressões faciais (que são coisas que acontecem em frações de segundos) não podem ser disfarçadas, ele não consegue simular e a vítima consegue captar rapidamente essas pequenas articulações como sendo incongruentes.


Quando uma pessoa se envolve com um narcisista, geralmente, ela tem esse histórico para contar: ela comenta sobre o olhar opaco, sem vida e distante, o sorriso forçado, os olhos que não acompanhavam o sorriso, o tom da voz, o jeito de se expressar, ou seja, ela se dá conta que estava lidando com uma pessoa que estava simulando. A pessoa precisa entender que os sinais que ela recebe de alerta, os "alarmes", as intuições são para a proteção dela pois acusam um sinal de perigo.


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