Quando uma pessoa está em convívio com um narcisista, é frequente que o perfeccionismo se instale em suas vidas. O perfeccionismo não deve ser visto como um talento, mas sim como uma manifestação de problemas profundos relacionados à autoestima. A incessante busca pela perfeição e pelos mais elevados padrões de qualidade muitas vezes reflete uma insatisfação interior. O perfeccionista tenta compensar sua falta de amor próprio buscando validação externa. A atenção, admiração, elogios, aparência, reconhecimento e status social funcionam como muletas emocionais, permitindo ao perfeccionista manter uma relativa paz consigo mesmo.
No entanto, para alguém que convive com um narcisista, o perfeccionismo vai além do desejo saudável de fazer as coisas bem. Ter ambições e trabalhar duro para realizar objetivos pessoais e profissionais é algo normal e saudável para adultos com uma identidade sólida. O sucesso, para essas pessoas, é uma consequência natural de seus esforços e não o único meio de obter paz interior.
Os perfeccionistas, ao contrário, estão obcecados com os resultados, negligenciando quem são verdadeiramente, suas preferências e talentos naturais, focando exclusivamente no impacto e na reação a suas ações. Enquanto indivíduos com autoestima saudável podem encontrar satisfação no processo de busca de seus objetivos, independentemente da qualidade dos resultados, os perfeccionistas só se sentem satisfeitos quando atingem a perfeição absoluta.
Por serem escravos dos resultados, a felicidade e a satisfação dos perfeccionistas são efêmeras. Aqueles que não alcançam a perfeição total em todas as suas empreitadas frequentemente sofrem com autocrítica, ruminação e autoavaliações negativas. O perfeccionismo se torna um processo de autodesvalorização que, ao contrário de uma ambição saudável, mina a autoestima de quem o pratica.
Para uma vítima que convive com um narcisista, a mensagem transmitida é que ela deve ser, sentir e fazer tudo de forma perfeita para ser aceita. Na perspectiva narcisista, a vítima precisa ser constantemente aprimorada para ser digna de aprovação. Na busca por atender a essas exigências, a vítima se sacrifica, sempre correndo atrás de um ideal inatingível de atração, inteligência e sucesso, constantemente aperfeiçoando desde sua aparência até suas realizações profissionais e pessoais.
Tudo o que a vítima faz, desde a escolha do esmalte até a elaboração de projetos no trabalho ou preparo de refeições, deve ser impecável. A vida da vítima se torna uma busca constante por validação e reconhecimento do narcisista. A motivação da vítima, mesmo que não seja consciente, está centrada em conquistar o amor e a apreciação do narcisista.
Entretanto, a busca incessante pela perfeição pode se tornar exaustiva. Além disso, para algumas pessoas que convivem com narcisistas, o perfeccionismo pode resultar em procrastinação. A busca pela perfeição demanda muito mais energia do que realizar algo com qualidade aceitável. Ao perceber o esforço necessário, a vítima muitas vezes desiste ou protela suas ações, visto que o esforço necessário supera os benefícios percebidos. Dado que as chances de alcançar a excelência absoluta são mínimas, a vítima posterga suas ações, vivendo em um mundo de preto e branco, ignorando os muitos tons de cinza.
Para superar o perfeccionismo e a procrastinação, é fundamental que a pessoa reconheça esses padrões em sua própria atitude. A conscientização dos comportamentos disfuncionais é o primeiro passo para aprender a superá-los.
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