A convivência com o narcisismo transforma a frustração em um constante companheiro. Sob a dominação do narcisista, a vítima se esforça diariamente para atender às necessidades do parceiro sem sucesso. Ela busca respostas que expliquem a hostilidade sem razão, questionando por que nada de positivo que faz parece compensar os supostos "defeitos" que o narcisista tanto enfatiza.
Essa busca por respostas leva a vítima a desenvolver um intenso sentimento de culpa, que cresce como uma infecção não tratada, evoluindo para algo mais grave.
Tudo isso tem suas raízes na infância!
Quando crianças, aprendemos a distinguir entre o certo e o errado, o bem e o mal, e a ideia geral de que a vida recompensa o bom comportamento. Crianças que se comportam bem na escola e em casa são recompensadas com presentes no Natal, enquanto aquelas que desobedecem são deixadas de lado. As crianças malcriadas não ganham sobremesa, e ladrões vão parar na prisão. Pessoas boas têm finais felizes, enquanto as más terminam sozinhas e doentes. As crianças boas recebem o amor de suas famílias, enquanto as más não merecem amor.
No caso de uma vítima de um narcisista, o amor se transforma em uma moeda de troca que precisa ser negociada para ser desfrutada.
A vítima acredita que, se não ganhar o amor, será abandonada. Ela tenta entender por que sua vida é tão diferente das histórias de contos de fadas, filmes, novelas e comerciais de TV, que sempre têm finais felizes, enquanto sua própria história parece desprovida de felicidade.
Na infância, a capacidade de interpretação da vítima estava, em grande parte, restrita à dinâmica com seus pais, já que muitas famílias mantêm comportamentos inconsistentes, consciente ou inconscientemente, fazendo com que as crianças se sintam responsáveis pelo tratamento que recebem.
Com o tempo, essa criança internaliza a mensagem de que é intrinsecamente má ou falha. Ela cresce acreditando que não é digna de amor, nem mesmo da própria família. Esse sentimento de culpa se torna uma carga que a vítima carrega, da infância até a vida adulta, persistindo mesmo até a sepultura.
A culpa está sempre presente na vida da vítima. Ela se sente culpada pelas emoções do parceiro narcisista, por como ele a faz se sentir e por estar presa a esse sentimento. Assim como qualquer sentimento autodestrutivo cultivado ao longo dos anos, a culpa precisa ser superada.
Liberar-se do peso da culpa é uma experiência catártica, assemelhando-se a retirar uma máscara de ferro que foi usada à força por décadas.
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