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Foto do escritorPsicólogo Flávio Torrecillas

Os Mitos do Narcisista

Diferente da esquizofrenia, o narcisismo é mais sútil e dificil de diagnosticar. Isso se deve ao fato de que o narcisista opera perfeitamente em sociedade.


Entre as aparentes qualidades, o narcisista se destaca por ser "extremamente comunicativo" e por expressar um "conhecimento geral acurado". Quando a vítima tenta se defender do comportamento dele, é relembrada de como ele é “influente". É dificil de acreditar que uma pessoa que possui tanto “cuidado com a aparência" seja tão má. Como uma pessoa socialmente ativa e que "tem tantos amigos" pode ser tão desprezível? Você é louca de pensar mal do seu companheiro narcisista. As aspas do parágrafo anterior servem para salientar os termos referidos no texto. Isso porque os itens destacados são mitos. Essas qualidades seriam admiráveis como atributos de uma pessoa normal observadas na vida desta. No entanto, o narcisista está longe de ser uma pessoa normal. No caso dos narcisistas, as aparências enganam e muito! A verdade que só a vítima sabe, é outra. Por trás de uma cortina de fumaça de aparente harmonia pessoal, existe uma pessoa insegura, insatisfeita e amarga. Com um narcisista, quase tudo o que se vê corresponde ao oposto da verdade.

O comportamento do narcisista perante os outros é pura encenação, nada mais do que uma mentira. Quando a vítima está a sós com ele, a máscara inevitavelmente cai e, nessas horas, a solidão se torna mais forte. O segundo passo na sua luta contra o narcisismo exige que a vítima separe o mito da pessoa que ele realmente é. A vítima pode e deve arrancar a máscara de perfeição e equilíbrio que o narcisista carrega, pois somente assim encontrará paz interior. Para obter esta paz de espírito, a vítima precisa mapear as dimensões do mito que circundam o narcisista.




Primeiro Mito: Ele é um bom marido e um bom pai.

Será mesmo?

Antes de revelar o mito do narcisista como bom marido e bom pai, convém analisar, primeiramente, o mito em torno das palavras marido e pai. A cultura brasileira, assim como as demais culturas do hemisfério ocidental, atribui uma conotação quase sagrada a estas palavras. A maioria das pessoas as protege por evocar sentimentos afetivos e carinhosos, embora marido e pai sejam uma instituição de reputação inquestionável. Ser marido e pai, confere ao homem um status renovado. Quando se torna pai, o “marido-pai” adquire direitos que o destacam perante outros homens. Entre estes direitos, está o controle absoluto sobre a vida de outro ser humano. Esta responsabilidade projeta o “marido-pai” a um patamar humano mais elevado, respeitado e apreciado por todos. O homem, quando pai, torna-se puro. Esta transformação de tão óbvia não exige grandes explicações e, assim, como a morte perdoa e engrandece, "pai é pai". Portanto, poucos se atrevem a questionar o mérito do marido-pai. Esta herança forte tem se perpetuado em nossa cultura por milhares de anos. A vítima, esposa de um marido narcisista, pagou com o seu amor-próprio para se tornar membro desta instituição. O narcisista se escuda na palavra marido e pai diariamente, sabe que pode torturar psicologicamente a esposa e os filhos porque ele é marido e pai e, como tal, imune à críticas. O comportamento impiedoso dele nunca é descoberto, porque quase ninguém acredita na vítima. No mundo real, ou seja, na realidade em que vive, a vítima está ciente de que ela, na presença do narcisista, não será acolhida, mas obliterada; que quanto maior a influência dele, menor a vítima se torna. A vítima não é especial por ser quem ela é, mas pelo que pode proporcionar ao narcisista. Diferentemente do que se veicula nos comerciais de dia dos namorados, ele não abraça forte para consolar a vítima quando ela se sente triste. Quando a vítima precisa dele, ele nunca está disponível, seja em pessoa ou emocionalmente. A palavra marido, para a vítima, abre a porta de um mundo prenhe de contradições. O verdadeiro marido-pai é quem ama e cuida do bem-estar físico, emocional e psicológico de seus filhos, aspectos tão significativos que superam a herança genética e biológica. Um marido-pai genuíno não usa seus filhos como justificativa das suas próprias falhas nem os acusa de serem empecilhos de seu sucesso. Ele certamente abdica de usá-los para se promover ou como instrumentos para atingir seus objetivos. O narcisista acaba com a vítima e com o seu amor-próprio, também arruína com os seus laços familiares. Não há harmonia familiar que resista a influência narcisista, por melhor que seja a intenção de seus membros, ele é disfuncional. Não existe equilíbrio ou possibilidade de entendimento enquanto uma família se encontra regida pela tirania narcisista. Tudo o que acontece na família está relacionado ao marido-pai, que define a dinâmica dos relacionamentos entre todos. Isso é devido ao fato de que o narcisista usa a vítima, seus pais e seus filhos, como qualquer outra pessoa na vida dele: como instrumentos, ele manipula todos como pequenos marionetes. Aquele que se recusa a viver em função dos humores e caprichos do narcisista fica automaticamente excluído do círculo familiar. Por ser muito sutil é difícil de detectar essa espécie de favorecimento caso a pessoa não seja parte ou amigo íntimo da família. Somente aqueles que têm um convívio diário com um narcisista conhecem seus maneirismos, seus sorrisos especiais e gestos coquetes. Somente quem tem um marido-pai narcisista sabe como a vida em família é solitária. No final de um drama narcisista, só há uma vítima (e um vencedor): ele!


Segundo Mito: Ele é agradável.

Ao conhecer uma pessoa legal e em momentos de uma conversa profunda, a vítima conta para a sua nova amiga que, infelizmente, desconfia que a pessoa a qual ela está se relacionando tem “algum problema” ou que "ele é meio estranho". O tempo passa e, um belo dia, a vítima convida a tal amiga para um almoço de domingo na sua casa. No dia seguinte, após o almoço, a vítima pergunta para a nova amiga o que ela achou do seu companheiro e comenta com ela: "Garanto que agora você entende porque eu disse que ele é estranho!". A amiga, meio sem graça, contesta que gostou do companheiro e que acredita que ele ame a vítima de uma forma que ninguém amou. E, ainda, complementa: “dessa vez eu tenho certeza que vai dar certo, você é o amor da vida desse cara, dá para notar”! A vítima se sente como uma idiota. Típico. Se tem uma característica do narcisista que se pode afirmar sem medo e com toda a certeza, é que se trata de um talento artístico. O narcisista é o melhor ator do planeta terra adjacentes. Ele pode estar "p" da vida com a vítima, gritando absurdos horrendos dentro de casa em um minuto, para no outro abrir a porta e, ao avistar o vizinho, bater um papinho entusiasmado de quinze minutos, de maneira alegre e amigável, enquanto exibe um sorriso brilhante e uma leveza de ser equivalentes ao de um príncipe dos contos de fadas. Tudo o que o narcisista faz é para se proteger e, como vive com um medo constante de que os outros descubram que ele não é perfeito, molda-se conforme a situação ou a pessoa, como um camaleão. Na frente dos outros, tudo o que ele diz e faz é premeditado, falso. Ele é capaz de tomar água e dizer que é vinho, se a pessoa que estiver servindo puder beneficiá-lo de alguma maneira. Narcisistas fazem conhecidos de pouco tempo se sentirem bem, pois não economizam em elogios e até flertam com pessoas do sexo oposto para expandir o seu número de fãs. Este comportamento cativante é intencional para desmoralizar a vítima e, desse modo, os amigos dela entenderem que, na verdade, é ela que tem problemas e não ele. Tudo o que o narcisista faz é para o autobeneficio. Sem a presença de plateia, o comportamento muda e, em casa, com a família, ele retira as luvas e expõe as suas verdadeiras garras. Basta abrir a porta de casa para que aquele sorriso simpático se torne um grunhido. O narcisista cordial e prestativo retorna ao modo irritadiço e insatisfeito enquanto o tratamento afável que até então tinha concedido a vítima, torna-se frio e distante. É como sofrer um choque de temperatura: em um momento é quente, no outro gélido, de tão rápida a mudança não dá nem tempo da vítima se aclimatar. O narcisista não é uma pessoa agradável, simplesmente porque o verbo "ser" denota uma qualidade permanente. Nada a respeito do narcisista é imutável, salvo sua mente transtornada. Pode-se afirmar que ele está agradável - em um momento específico - como quando deseja algo da vítima. Esse estado, no entanto, artificial e passageiro, dissipa-se tão rapidamente quanto névoa em dia de sol. A experiência com um narcisista ensinou a vítima a não confiar em surtos de bom humor, pois o fato de estar mais animado não garante que ela será tratada bem. Ao perceber uma mudança de humor no companheiro narcisista, a vítima torce para que seja um dia agradável em que possam sair para jantar juntos. A vítima se aproxima dele, esperançosa, e sugere que façam algo juntos e ele, por sua vez, sentindo-se atacado por tamanha ousadia, recusa as propostas da vítima com palavras curtas e grossas. Como tudo o que acontece de bom na vida do narcisista, o bom humor é propriedade dele e de mais ninguém. Na presença exclusiva da vítima e da sua família, o narcisista não se esforça nenhum pouco para agradar a ninguém. Longe dos olhares dos outros, ele só é e faz o que bem quiser. Grande parte do papel do companheiro narcisista consiste em contribuir com o entretenimento dos filhos. Brincar com uma criança pequena pode não ser a atividade mais interessante na vida de um adulto, mas é uma das maneiras que os pais tem de se conectar emocional e afetivamente com os filhos. O narcisista nunca tem paciência para entreter seus filhos e nem se esforça para fazer algo que não reflita uma preferência dele. Brincar ou ajudar um filho com os deveres de casa são atividades enfadonhas para um narcisista por servir somente aos interesses da criança. Como o nível de tolerância ao desconforto do narcisista é baixíssimo, ele só se sacrifica para servir as próprias vontades. Para desmascarar a pose do narcisista de companhia agradável, basta discordar com ele de maneira aberta e persistente. A vítima pode contrariar o narcisista de várias maneiras: recusando-se a fazer o que ele quer, não retribuindo elogios ou reagindo de forma indiferente ao recebê-los, rejeitando argumentos, falando mais do que ele fala e movendo o foco da conversação para outras pessoas. Outra maneira eficiente consiste em ressaltar as qualidades de algo ou alguém que o narcisista despreza. A vítima pode escolher uma pessoa, lugar ou atividade que o narcisista considere abaixo dele e, com grande deleite, descrever as qualidades desta pessoa/coisa em detalhes. Assistir um narcisista perder a compostura é como se surpreender com um carro desgovernado dentro de casa. Choque total.


Terceiro Mito: Ele é o anfitrião perfeito.

O narcisista adora ser o centro das atenções e, por isso, habitualmente organiza encontros, festas ou outros eventos sociais. Contudo, não se cerca de pessoas por apreciar suas personalidades, mas para desfrutar do efeito que produzem nele. As motivações do narcisista são tão honestas quanto as de um político em período de eleições. Seja Natal, aniversário, festa de formatura ou casamento, tudo é planejado de forma um tanto quanto nazista pelo narcisista. Estes eventos são conduzidos nos limites da residência dele, ou em lugares indicados por ele. Não existe democracia nestes procedimentos, pois é ele quem escolhe os convidados, define o tipo de comida, decoração, música, etc. Ai da vítima ousar tirar-lhe este direito, ele vira o demônio ou abandona tudo, profundamente magoado. Na eventualidade dele passar o controle para os outros, terá a oportunidade de criticar os esforços alheios, reafirmar a soberania de costume e seus padrões de perfeição. Diante do domínio narcisista, resta um sentimento de impotência, de que nada do que a vítima diga ou faça é válido. A vítima é tomada por uma tristeza humilhante por nunca contribuir com nada positivo, independente da sua idade ou experiência. Se, inicialmente a vítima se anima com o planejamento de um evento narcisista é porque o entusiasmo dele acaba sendo contagiante. Mas, durante e depois de ter participado, a vítima se sente como nada mais do que um acessório, enganada e manipulada. Mais do que isso, ele faz com que a vítima se sinta como uma atriz coadjuvante de quinta categoria. Enquanto a vítima posa de ajudante atrapalhada, ele flutua contente entre os convidados, mencionando sutilmente sobre a incompetência da vítima em organizar um simples jantar. Para o narcisista, a celebração simboliza um momento de ostentação, caso disponha de recursos financeiros é a oportunidade ideal para alardear seu status privilegiado. Na mesa do narcisista abonado só há do bom e do melhor desde os talheres até as baixadas, tudo é absolutamente perfeito, cintilante. Até a comida servida pelo narcisista tem etiqueta de grife, tudo que serve é especial, inovador. O narcisista pode até viver de economias, mas o exibicionismo dele não tem limites. Enquanto em família, o repertório culinário não se aventura além da comida fit, pois ele teme engordar, na presença de convidados, todavia, a mesa da sala de jantar se torna tão sofisticada quanto um banquete em um restaurante de luxo. A diferença é marcante. O acesso ao castelo narcisista concede-se mediante uma pequena taxa e de seus convidados honorários, o narcisista espera nada mais do que admiração absoluta. Quando a vítima se torna parte do circo narcisista, nada mais natural que se comporte como palhaço. Durante um encontro oferecido por ele e regado a comida e a bebida, a vítima deve, constantemente, elogiar o anfitrião. A vítima deve, primeiramente, reconhecer o caráter único do que ele oferece e torná-lo incomparável. Para pessoas que se sentem bem em encontros e relacionamentos superficiais, a casa do narcisista reproduz o ambiente perfeito. Para quem se sente confortável no papel de baba-ovo, o narcisista é o anfitrião ideal. Já para aqueles que acham a ideia de encenação social uma piada, a casa de Narciso deixa a desejar. Gosto não se discute. O importante é que o convidado do narcisista saiba exatamente o seu lugar: em casa de narcisista só quem pode brilhar é ele!

Quarto Mito: Ele é Comunicativo

Esta "qualidade" narcisista é um mito, tendo em vista que a palavra “comunicativo” denota um atributo de personalidade positiva. Personagens que colorem a mídia internacional, como artistas, profissionais e empresários de sucesso, usam da fala para comunicar seus carismas irresistíveis. Mas este não é o caso do narcisista. O narcisista não se comunica, mas impõe a presença através do som. O narcisista quando fala, lidera, domina e manipula, indiscriminadamente, qualquer processo ou tentativa de conversação entre duas ou demais pessoas (eis aqui o grande exemplo dos políticos). Se a vítima se perde do narcisista em um lugar cheio de pessoas, é fácil localizá-lo: basta seguir-lhe a voz. O narcisista usa a boca para ir a Roma e dar a volta ao mundo 24 vezes, ininterruptamente. A participação da vítima em conversas com o narcisista é quase zero. Diálogo, com ele, vira monólogo narcisista em um piscar de olhos. A vítima pode proferir basicamente quatro frases: "Alô", "Oi amor", "Tudo bem" e "Tchau, beijo". O restante é uma torrente de relatos pessoais, histórias do cotidiano, fofocas, lamentações, críticas à bola da vez e, se a vítima tiver sorte, uma vaga falsa inquisição ao seu estado: "Oi amor, tudo bem?". Sim, AMOR pois ele escolhe um apelido carinhoso para manter a vítima dentro do ciclo de abuso. Com o ouvido doendo de ouvir o pronome "eu” duzentas vezes, a vítima mente: "Tudo bem sim…”O narcisista usa a fala para praticamente tudo, seja para confirmar o óbvio ou fazer um comentário totalmente desnecessário. Essa obsessão com a fala tem duas razões de ser: primeiro, não suporta o silêncio porque este fala mais alto do que a voz dele. O silêncio é a voz da verdade para os narcisistas. A ausência de som dá lugar a pensamentos, e pensamentos, para um narcisista, são armas suicidas. A maioria das pessoas normais, quando em crises sérias de baixa autoestima, entram em depressão, mergulham em um poço de apatia e tristeza e retornam à superfície, semanas ou meses depois, recuperadas. Elas aprendem com a experiência e, se for recorrente, provavelmente consultam um amigo que, talvez, recomende um psicoterapeuta. Após passar por tudo isso, a pessoa acaba conhecendo um pouco mais sobre si e cresce emocional e psicologicamente. O narcisista lida com o problema crônico de baixa autoestima dele tagarelando. Quando não está falando, está fazendo alguma coisa. Está sempre se preparando para sair, arrumando ou inventando algo. Ele não para, nunca. Passar momentos de introspecção e reflexão olhando para o nada é, de acordo com a definição dele, "coisa de gente que não tem o que fazer". O narcisista é melhor do que isso, nunca entrou nem entrará em depressão porque é um modelo da perfeição humana. Depressão, para ele, é coisa de pessoa fraca. Para que entrar em depressão, quando pode descontar a frustação nos outros? Nessas horas, todo mundo serve: vizinho, empregada, amigo, garçom, não importa. Mas ninguém, ninguém lhe dá tamanha satisfação de atormentar quanto a vítima, seu tônico narcisista predileto. Blá-blá-blá e tome mais uma crítica. Para pessoas patologicamente inseguras, a fala se torna a maneira mais fácil de chamar a atenção. Quanto mais velho o narcisista se torna, mais latim desperdiça e sem a beleza da juventude para atrair olhares, conversa para compensar o efeito do tempo. Vendedor de loja, caixa de banco, porteiro de garagem, pessoas paradas na sinaleira ou quem estiver disponível tornam-se alvo narcisista. É por intermédio da conversa que o narcisista se fortifica, o veículo pelo qual se torna o centro das atenções na vida dos outros nem que por cinco segundos. Este comportamento se assemelha à droga para o viciado, de alívio imediato, mas temporário. Como a lei da fisica impede que dois corpos ocupem o mesmo lugar ao mesmo tempo, quando o ar é preenchido por palavras, elas são da boca do narcisista. À vítima, raramente é concedido o privilégio de se expressar verbalmente. Em discussões com o narcisista, ideias morrem com a mesma velocidade que entram na consciência de uma vítima. Qualquer tentativa de ser ouvida naufraga, já que ouvir uma vítima deixa o narcisista inquieto e entediado. Se a vítima precisa desabafar, o narcisista corta a história dela ao meio, usando a introdução como pretexto para um relato a respeito dele. Em outro momento, o narcisista usa as palavras da vítima contra ela para desmoralizá-la, visto que, na boca do narcisista, as palavras sempre se transformam em uma arma perigosa.

Quinto Mito: Ele é Inteligente. Será?

A vítima conheceu o narcisista acreditando que ele era muito inteligente, "fato" confirmado pelos puxa-sacos de plantão. A vítima passa a assistir o narcisista se vangloriar de conquistas acadêmicas, esportivas, empregos interessantes e demais feitos extraordinários. Se ele é ou foi relativamente bem-sucedido nestes aspectos é por possuir um caráter de competência única e ser “um cara de sorte”. Não existe oportunidade, momento econômico, índice de oferta de emprego ou acaso com poder suficiente para influenciar os resultados na vida dele. Tudo o que acontece de bom na história do narcisista é provocado por ele ou uma consequência direta de ser quem ele é.

Se o intelecto do narcisista não teve

serventia ao grande público ou não foi o suficiente para gerar sucesso absoluto, a culpa não é dele, pois se trata de um daqueles casos de talento desperdiçado. Há sempre uma justificativa plausível para a "falta de sorte" do narcisista. Se ganha pouco, é porque o que faz não é valorizado. Se foi demitido, é porque os colegas conspiraram contra ele. Se não tem emprego, é porque o mercado de trabalho está atipicamente ruim. Se não trabalha, é porque teve de abandonar tudo para cuidar da família. Ouvir o narcisista se autovangloriar de seus supostos atributos é como receber uma lavagem cerebral e isso se aplica a absolutamente tudo o que ele fala com tom de autoridade. Por ser seu companheiro, uma vítima acredita no narcisista e passa a não duvidar da ladainha dele pois foi condicionada que a verdade é “de acordo com o que ele conta”. Como um patinho perdido em dia de tempestade, a vítima o segue e isso acontece também com a maioria das pessoas que entram em contato com ele. Quem sabe se expressar com confiança tende a conquistar admiradores. No caso do narcisista, no entanto, essa admiração se deve ao talento artístico dele e não necessariamente ao conteúdo original da mensagem. O narcisista pode até ser esperto e aludir a um ou a outro fato de relevância para se fazer entender mas ele mente, pura e simplesmente sobre tudo. O narcisista repete palavras alheias e aceita o mérito de quem as criou como se fossem dele, inclusive, chega a manipular o conteúdo das informações que recebe para satisfazer seus próprios argumentos. Enquanto a vítima se entrega a lenga-lenga narcisista, encantada pela suposta sabedoria do seu companheiro, ele secretamente ri da ingenuidade dela. Por estar sempre tão atento àquilo que diz, para que erros não corrompam a imagem impecável que se esforça em criar, o narcisista é considerado articulado. Embora isso aconteça, ele não é inteligente. A inteligência pressupõe que se desenvolva e seja mantida por meio do debate intelectual. Além disso, é cultivada através de um processo constante de reavaliação e rebote de argumentos, que depende, sobretudo, de raciocínio, diálogo e estudo. No caso do narcisista, o conhecimento não é construído de forma racional tampouco democrática, já que inexiste uma troca de ideias cordial com ele, afinal, o narcisista abdica da verdade para apresentar a sua verdade. O narcisista não argumenta, pois não precisa de razões para impor as opiniões dele nem para persuadir a vitima. A razão é dele e as coisas sempre serão contadas do jeito que ele acha e do jeito que ele quer, ponto. Tentar fazer com que o narcisista entenda que isso ou aquilo não faz nenhum sentido desemboca em perda de tempo. Enquanto a vítima se esforça para expressar as suas ideias de forma coerente, ele já lhe deu as costas e se retirou. Se acontecer dele ouvir - o que é algo raro, ele espera a vitima terminar, para olha-la de cima a baixo e, então, emite um grunhido de desdém do tipo "Humf! e lhe dá as costas. O interesse do narcisista tende a se dissipar no momento em que se vê contrariado. Por ser incapaz de refletir sobre a própria existência de maneira adulta, o narcisista mantém uma percepção de mundo limitada pela inconsistência e pela superficialidade. Tende a processar o que vê em preto e branco e de modo extremado. Por outro lado, há uma oscilação de opiniões em que hoje faz sentido e amanhã pode se tornar errado, a depender do entusiasmo do momento. Adultos normais são capazes de criar pontos de vista imparciais e de manter certa distância objetiva de seus argumentos. Eles são aptos a propor uma ideia como entidade independente e sem valor pessoal. Com um companheiro narcisista, tudo é subjetivo, pois tudo é relacionado a ele, de uma maneira ou de outra. O know-how do narcisista se adapta às necessidades de temperamento ou da imagem que deseja veicular. A pose de sabichão do narcisista não resiste à investigação astuciosa. Como a opinião dele é tendenciosa e perfunctória, tende a mudar de assunto quando convidado a explorar o tema com maior profundidade. A escolha é da vítima em insistir no seu ponto de vista e enfrentar a ira narcisista ou concordar com ele e com o suposto mérito dos argumentos.

Sexto Mito: Ele tem muitos Amigos

Em primeiro lugar vamos deixar uma coisa bem clara: um narcisista pode até ter amigos, mas ele não é amigo de ninguém. Para quem considera a amizade um relacionamento reciproco, um amigo do narcisista é tão genuíno quanto uma bolsa de grife em barraca de camelô. Amigo de narcisista é nada mais do que plateia ou acessório, apenas isso!

Na área dos relacionamentos, assim como a tudo que diz respeito ao narcisista, quem dá as cartas é sempre ele. O narcisista não vê amigos como pessoas, mas sim como instrumentos. Se alguém perguntar para ele porque gosta de tal pessoa, ele responderá: "Eu gosto dela porque ela me...

…Isto é, o narcisista tem amigos pela mesma razão que tem esposa, namorada, filhos, roupas, carros, animais, empregos, etc.: para se AUTOBENEFICIAR.

Uma pessoa é considerada amiga pelo narcisista quando proporciona algo que ele gosta, algo que ele quer ou algo que ele precisa. O narcisista não se relaciona com pessoas por apreciar suas personalidades, ou por ter interesses em comuns, como acontece na vida de pessoas normais. Esses fatores, sozinhos, são insuficientes para que ele conceda a alguém o status de amigo que, segundo sua ótica, é quem ajuda, faz coisas para ele, dá coisas para ele, oferece companhia a qualquer hora, quando se faz disponível, tem um nível educacional razoável, é influente e bem-sucedido, ou tem o hábito de relevar a tudo e a todos.

Esses amigos são normalmente pessoas cegas pela própria bondade ou com ouvidos permanentemente configurados em modo “penico”. Também há pessoas com síndrome de Poliana, outros narcisistas e pessoas solitárias e desesperadas por qualquer tipo de contato humano. No círculo de amizades narcisista, também se encontram aqueles que não levam a amizade a sério, ou que mantêm relacionamentos em nível superficial por terem dificuldade de confiar nos outros. Uma vítima já perdeu as contas de quanta gente já passou pela vida do seu companheiro narcisista. As muitas pessoas que se veem seduzidas por uma amizade nova, poucas resistem ao teste do tempo. A proporção não chega a 1%. Dentro dessa percentagem, a maioria desaparece quando se dá conta de quem ele verdadeiramente é. O restante permanece, mas se faz disponível em doses homeopáticas.

Em eventos sociais, o narcisista é o verdadeiro lobo em pele de cordeiro, esperando pacientemente para dar o bote. Quando entremeado na lábia narcisista, resistir é inútil, pois se torna vítima de um ataque sonoro. Sem perceber, a pessoa já aceitou um convite para jantar na casa dele no próximo fim de semana, tendo em vista que o narcisista é nota 10 em persistência. Como ele não tem respeito por etiqueta social - exceto quando acuado - bombardeia pessoas que mal conhece com perguntas e exigências. Desarmada e intimidada por tanto blá-blá-blá a vítima concorda, sem tempo para refletir sobre a sua decisão. Essa estratégia nunca falha, pois o narcisista sabe muito bem quem deve atacar para conseguir o que quer. Pessoas boas e educadas são presas fáceis.

O narcisista usa da bondade e das boas maneiras das outras pessoas para impor a presença dele. Ele vive rodeada de pessoas que não sabem dizer não, como é o caso dos tímidos e inseguros. O narcisista não deixa ninguém em paz e incomoda, inclusive, pessoas que ele não vê há anos. Uma vítima está sempre intimidada e envergonhada de estar ao lado dele nesses momentos em que ele faz questão de ser lembrado. Mesmo antes da internet e das redes sociais, o narcisista já era capaz de desenterrar pessoas das profundezas terrestres.

Dependendo do capricho do momento, ele requisita a presença de quem quer que seja como se fosse a realeza britânica. Se ele precisa de conselho a respeito de uma dor nas costas, médicos ortopedistas são contatados.

Quando ele precisa de ajuda para entender uma lei qualquer, advogados são solicitados. Para aguar as plantas enquanto ele está de férias, vizinhos são convocadas. Não interessa se alguém não vê o narcisista desde o tempo de universidade, ou se conhece ele somente de conversas nas ruas da vizinhança. Se alguém cruzar o caminho da narcisista, essa pessoa vira presa. O narcisista está sempre atrás de pares de olhos e ouvidos novos. A rotação de amigos na vida dele é tão grande - tanto quanto a demanda narcisista por atenção - que não poupa esforços para arranjar companhia. Por não ter respeito pela vítima, o narcisista tira proveito também dos seus relacionamentos da sua companheira.

Pessoas que se tornam íntimas de uma vítima, eventualmente acabam caindo na armadilha narcisista. Basta essa pessoa possuir um perfil compatível ao da vítima (não saber dizer “não”, ser uma pessoa boa, educada, tímida ou insegura), para deixar de ser amigo da vítima e virar amigo do narcisista. O narcisista também se acha no direito de contatar, livremente e de antemão, sem avisar a vítima, os amigos ou ex-amigos, namorado ou ex-namorados, como também marido ou ex-marido dela. Nenhuma razão é forte o suficiente para impedir o narcisista de realizar as vontades do momento. Quanto mais constrangedora a situação para a vítima , mais conveniente para ele. Se o narcisista precisa de alguém para tagarelar, ele encontra alguém para tagarelar, seja esse alguém quem for. Para testar a qualidade da amizade de um narcisista, basta lhe pedir ajuda com algo inconveniente. Favores que envolvam dinheiro ou sacrifício pessoal tendem a revelar a natureza corrompida do narcisista com facilidade. Com um pouco de persistência e olhar observador, aquele semblante amigo se converte rapidamente em uma expressão seca e amarga: a verdadeira face narcisista!


Sétimo Mito: Ele tem cuidado com a aparência.

"Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?" "Não, querido. Você é o maioral!"

A vaidade tem um papel importante na vida do narcisista e se manifesta, principalmente, com o cuidado da aparência, mas também através de bens materiais e amigos ou esposas-troféu. Representa, portanto, o veículo principal de compensação psicológica narcisista.

O narcisista toma cuidado com a imagem por ser a única coisa sobre a qual ele tem o devido controle. Por não ser inteiro em alma como em corpo, compensa com o que se vê por fora. Por ter uma alma quebrada, seu senso de identidade é distorcido, corrompido e falso e, em função disso, passa a vida toda se moldando aos outros em uma busca obsessiva da imagem ideal. Os gostos e preferências dele são emprestados e passageiros, ou seja, nada é autêntico. Como ele tem uma idade mental não correspondente à real, a aparência dele provavelmente reflete este déficit.

É comum encontrar narcisistas se vestindo de forma imprópria para “aparentar ser mais jovem e descolado”, principalmente em ocasiões mais sociais. Se o narcisista está sempre impecável, é por puro medo de ser considerado velho, pobre, feio ou desleixado. O que para os outros é um look relax e "em-paz-comigo-mesmo", para o narcisista é uma ofensa visual. Um narcisista impecável perde a compostura sem seus sapatos, casacos, coletes, camisas, calças, sobretudos, relógios, óculos, carros e tudo quanto é bem material. A verdade é cruel: sem a máscara narcisista, ele não é nada.

O narcisista é prisioneiro da aparência, pois tal Narciso, escravizou-se à própria imagem. Sua pele, seu cabelo, seu peso, sua altura, sua postura, seu andar e seu falar - seu inteiro ser - é monitorado rigorosamente. A convicção dele é de que somente a beleza gratifica. Aspectos de personalidade positivos perdem completamente a relevância em face de uma aparência defeituosa. Para o narcisista, a beleza não põe apenas mesa, mas lava a louça e varre o chão.

Quando se convive com um narcisista aprende-se que todos são classificados de acordo com suas caraterísticas e particularidades físicas. Uma amiga doce e prestativa da companheira (a vítima) sempre é referida pelo narcisista como "aquela gordinha". O colega de trabalho, é o “cara de perna torta", e assim por diante. Sempre existe uma classificação para desqualificar qualquer pessoa que esteja próxima da vítima.

Imagine o narcisista como uma grande panela de pressão. Para atenuar o tumulto interior, vive se comparando com os outros, mecanismo que serve para amenizar a tensão emocional e evitar uma explosão. Está sempre à procura de um alvo para se compensar. Por exemplo, se o narcisista está mais velho, a sua aparência não está pior do que a do vizinho que “parece uma uva passa falante”. Avaliar pessoas com base em seus atributos físicos é fácil, pois não exige muita destreza intelectual. O narcisista se realiza profundamente no papel de jurado enquanto a vida, para ele, nada mais é do que um grande concurso de beleza. Quando descobre um potencial para acabar com alguém, ataca, principalmente pelas costas, quando a vítima se encontra desprotegida.

Se tornar uma jovem mulher ao lado de um narcisista exige estamina. Antes de uma companheira ser ela mesma, é preciso ser a mais bonita. Mais do que mulher, uma vítima é sempre um objeto.

Nada do que uma vítima sente é mais importante do que o efeito que causa nos outros, principalmente no sexo masculino. Para um narcisista, somente as mulheres atraentes são verdadeiramente bem-sucedidas. Não adianta inteligência se uma mulher não é atraente, é assim que pensa um narcisista. Para ele, quando uma mulher entra em uma sala repleta de gente, um homem vai se encantar pela mulher mais cobiçada, não por aquela sem graça com mestrado em física quântica.

O que importa é chamar a atenção, o resto vem depois. Como tudo na vida, uma vítima pode escolher entre dois caminhos: o da mediocridade ou o da glória absoluta. Para uma companheira de um narcisista basta decidir se quer que os outros a classifiquem de “sem sal” ou de bonita. Estar com um narcisista é se deparar com tamanha subversão e falta de valores.

A aparência do narcisista engana mais do que a idade, pois diverge a atenção do caos emocional em que ele se encontra. A triste realidade, contudo, é que por baixo de todo aquele verniz habita um homem inseguro, infeliz e insatisfeito.


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