De todas as coisas que eu posso falar neste texto, a mais importante está com a vítima: a intuição. Durante um relacionamento com um narcisista, mais cedo ou mais tarde a voz interior vai avisar que existe alguma coisa errada. A energia dos narcisistas é muito densa, é muito estranha, é muito baixa e a vítima vai sentir isso.
Ninguém nos conhece tão bem quanto nós mesmos e a nossa voz interior vai tentar ajudar. Escutar a nossa voz interior pode nos salvar. Quando um narcisista começa um relacionamento com a sua vítima, ele(a) vai fazer isso de uma forma muito rápida, muito intensa e ele(a) vai preencher todas as lacunas da vida dessa pessoa. É como se todas as vontades, necessidades, sonhos e tudo o que essa pessoa um dia pediu a Deus, de repente tivesse se materializado, ou seja, uma pessoa perfeita tivesse surgido.
E a primeira coisa que o(a) narcisista faz é roubar o tempo dessa pessoa. São muitas mensagens, são muitos áudios, tudo muito presente, tudo muito constante e a vítima deixa de ter tempo para os amigos, para o trabalho, para um banho descente, para dormir, etc.
O(a) narcisista precisa da atenção dessa vítima o tempo inteiro e fica muito difícil não atender a essa solicitação 24 horas por dia porque quando a vítima tenta sair disso e tenta fazer alguma coisa fora disso é como se ela estivesse sendo ingrata ou como se não tivesse gostando de "tanto amor", de "tanta atenção", de "tanto carinho". Então, a vítima entra no jogo e entra de cabeça.
Os(a) narcisistas são muito hábeis em inverter as situações e eles se colocam sempre como vítimas. Quando eles começam a contar as suas histórias (histórias do passado, histórias da sua vida), eles vão contar como a vida deles é terrível e como a partir daquele momento, depois de ter conhecido a vítima, a vida dele(a) finalmente vai andar, finalmente ele(a) vai ser feliz (dramatizando como uma coisa que ele nunca viveu).
E, neste momento, ele(a) transfere para a vítima toda a responsabilidade para que tudo dê certo. Ele(a) começa a colocar nessa vítima gatilhos de culpa, de ansiedade e de apreensão pois ela passa a ser responsável pela felicidade desse(a) narcisista. Uma felicidade que nunca vai chegar porque narcisistas nunca ficam felizes, nunca ficam satisfeitos e a vítima fica o tempo inteiro tentando se superar, tentando ser boa, tentando ser suficiente (uma coisa que nunca vai acontecer). Outra coisa importante é que narcisistas são extremamente invejosos e eles tem inveja da vítima.
Eles tem muita raiva do brilho, da alegria, da capacidade dessa vítima mas eles não podem demonstrar isso de uma maneira tão clara então eles "mordem e assopram" o tempo inteiro, ou seja, ao mesmo tempo em que eles fazem um elogio, eles fazem uma crítica, colocam a vítima "lá em cima", colocam "lá embaixo". E a inveja que eles sentem das outras pessoas acaba sendo uma coisa um pouco mais explícita pois como eles tem muita inveja, eles passam a falar mal do chefe, passam a falar mal do irmão, passam a falar mal do colega, passam a falar mal dos pais eles passam a falar mal de todo mundo, como se as pessoas não merecessem ter a vida que tem (não merecessem ter o carro que tem, o trabalho que tem) porque eles sentem inveja! É como se as pessoas fossem burras e incapazes, sendo incoerente, na visão do narcisista, elas terem a vida que tem.
O(a) narcisista, quando vai falar sobre o passado dele(a) (já que ele se coloca sempre na posição de vítima), ele(a) vai "pintar" "a ex" ou "o ex" como sendo, obviamente, loucos(a). Então ele sempre tem um "ex louco" ou uma "ex louca" que "vive chorando com muito amor atrás dele(a)" e que "ele não quer mais" o que na verdade é uma grande mentira porque essa pessoa, muito provavelmente, está fugindo dele(a).
Ele(a) só esquece de contar como que ele(a) tornou a vida dessa pessoa um tormento (como ele manipulou, como ele usou, como ele mentiu, como ele enganou) e que essa pessoa muito provavelmente não está atrás dele(a) mas ele(a) está atrás dela(e).
O(a) narcisista conta todas essas histórias porque ele(a) triangula, ele(a) deixa a vítima numa situação de medo, de que vai perder (pois, afinal de contas, "tem alguém atrás dele"), então o "valor" dele(a) sobe e ele(a) se coloca como coitado e a nova vítima, finalmente vai "fazê-lo feliz", mas preste atenção pois ele(a) tem "um ex louco" ou "uma ex louca", tome cuidado! É extremante cruel o jogo que eles fazem.
Os narcisistas mentem muito, muito, muito, muito, muito!
Mentem o tempo inteiro! E eles misturam essas mentiras com algumas verdades e, por isso, fica tudo muito confuso porque as coisas "meio" que "não se encaixam" então, quando a vítima tenta confrontar ou buscar um entendimento, ela é acusada de não conseguir entender as coisas e, nesse momento, o narcisista dá o tratamento de silêncio pois ele acusa a vítima de não confiar nele:
"Não dá para viver sem confiança"! Ele(a) diz. Portanto, a mentira está sempre presente num relacionamento com um(a) narcisista pois eles mentem, triangulam, difamam, roubam o tempo, a energia e a paz da vítima.
Esses são sinais clássicos de estar vivendo um abuso narcisista pois eles absolutamente tomam conta da vida da vítima, drenam, sugam e, mesmo assim, a vítima fica completamente manipulada, obcecada, querendo estar do lado desse abusador. Narcisistas não fazem conexões reais.
A sensação que a vítima tem de não estar atingindo os objetivos, de não conseguir entender ou alcançar o narcisista é uma sensação real porque não existe uma conexão real com essa pessoa pois tudo é uma grande mentira, uma grande farsa, um grande cenário.
Os narcisistas jogam o tempo inteiro com várias pessoas, a vítima nunca sabe que peça do jogo ela é. A vítima pode ser a principal (suprimento primário) mas está servindo para machucar uma outra vítima e ela(e) nem percebe que está sendo usada para essa dinâmica. Se você percebeu que pode estar sendo vítima de um abuso narcisista, procure ajuda profissional para poder passar por essa fase de uma maneira um pouco mais tranquila pois existe vida após o abuso narcisista. Romper esse ciclo exige conhecimento da dinâmica que evolve esse jogo de manipulação e, acima de tudo, autoconhecimento.
Sair dessa prisão emocional exige ter força.
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