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  • Foto do escritorPsicólogo Flávio Torrecillas

Despertando do Abuso Narcisista: As 5 Fases do Processo.

As cinco etapas do despertar após o abuso narcisista são frequentemente comparadas aos cinco estágios da morte descritos no modelo desenvolvido por Elisabeth Kübler-Ross. Essas etapas representam as diferentes fases emocionais pelas quais uma pessoa geralmente passa durante o processo de se recuperar do abuso narcisista.


  • NEGAÇÃO.

Quando confrontada/o com novas informações que desafiam sua realidade atual, percepção dos acontecimentos e crenças fundamentais, a pessoa tende a reagir com uma atitude de negação.

Essa negação é um processo psicológico conhecido como mecanismo de defesa na corrente da psicologia analítica, ou distorção cognitiva na corrente da psicologia cognitiva. Embora as definições possam variar um pouco, o resultado final é o mesmo: negar a realidade ou informações que a questionam. Conforme mencionado anteriormente, a negação faz parte do processo de dissonância cognitiva, que busca manter as crenças fundamentais que sustentam a realidade em que acreditamos.

Nessa fase, a pessoa faz todos os esforços para se apegar à antiga realidade, que começa a se desmoronar, pois é psicologicamente mais fácil "digerir" essa situação do que aceitar e se adaptar às novas informações que lhe são apresentadas.

É bastante comum, nessa fase, a pessoa ter reações ou opiniões que reafirmam a opinião ou "narrativa oficial" criada pelo narcisista. Todas as informações que são contrárias a essa "narrativa oficial" e suas crenças atuais são rotuladas como "loucas", imorais ou simplesmente teorias conspiratórias.

O ponto crucial da negação nessa fase é que ninguém gosta de admitir que está errado/a, e muito menos de admitir que foi enganado/a. Portanto, é muito mais fácil negar as novas informações do que aceitá-las.


  • RAIVA.

A negação tem um limite. Quando esse limite é ultrapassado, a pessoa começa a sentir raiva ao perceber que a realidade em que acreditava era uma mentira criada pelo/a narcisista para usá-la e manipulá-la/o.

A teia de mentiras, falsidades, abusos e manipulações cruéis se torna claramente visível. A "narrativa oficial" do narcisista é vista como um conjunto de mentiras que servem apenas aos propósitos egocêntricos do narcisista. A pessoa finalmente começa a tomar consciência do abuso e da manipulação que sofreu e começa a responsabilizar o narcisista.

Nesse estágio, a pessoa começa a enxergar além da "narrativa oficial" do narcisista, além das mentiras e manipulações. É bastante comum surgir o desejo de expor a pessoa narcisista aos olhos dos outros. Há o desejo de comunicar essa nova realidade e o quão tóxico é o narcisista. No entanto, isso geralmente leva a mais frustração e raiva, pois a maioria das pessoas não está pronta para abdicar da imagem positiva que têm do narcisista. Elas não vão acreditar, não vão levar a sério.

Perguntas que surgem nessa fase podem incluir: "Por que eu? Isso não é justo!"; "Como isso pode acontecer comigo?"; "Quem é o culpado?"; "Por que isso aconteceu?".

A raiva é uma reação perfeitamente normal de defesa que sentimos quando nossos limites pessoais não são respeitados e o abuso está presente. No entanto, nesse contexto, a raiva é direcionada à descoberta do abuso e manipulação do passado, dos quais a pessoa não estava ciente. A raiva não é apenas direcionada ao narcisista, mas também a si mesma, por ter acreditado na realidade ilusória do narcisista e ter permitido ser abusada/o e manipulada/o por ela/e.

Além da raiva, muitas pessoas também sentem culpa. Elas se culpam por sentirem raiva, pois foram condicionadas a nunca expressarem descontentamento em relação às ações do narcisista (muitas vezes, os narcisistas se fazem de vítimas para fazer a outra pessoa sentir culpa e assim manipulá-la melhor). Muitas dessas pessoas têm dificuldade em lidar com isso, não sabem o que fazer com a raiva. É uma emoção nova para elas, com a qual não estão acostumadas a lidar e muito menos a permitir-se expressar.

Algumas acham que a raiva não é natural e reprimem seus sentimentos, criando julgamentos negativos sobre si mesmas, como "Eu sou uma pessoa boa, como posso sentir isso?". No entanto, a raiva é uma emoção natural, é o nosso sistema de alarme contra abuso e manipulação que foi desativado pelo narcisista e que agora está começando a funcionar novamente. É importante fazer a distinção entre raiva e agressão, pois são coisas diferentes. A raiva é uma emoção genuína que faz parte da natureza humana. A agressão é uma decisão de causar danos a outras pessoas. A pessoa pode permitir-se sentir raiva sem necessariamente ser agressiva.

Embora a raiva ajude a pessoa a sair da ilusão em que estava, ela tem um aspecto negativo: consome uma grande quantidade de energia. Nessa fase, a pessoa oscila entre atacar a antiga realidade e se defender da nova, e isso requer um esforço considerável que causa um desgaste significativo. Isso leva a um gasto excessivo de energia, deixando a pessoa exausta e cansada.

Uma estratégia eficaz nessa fase é redirecionar toda a energia da raiva para pesquisar os fatos, buscar mais informações, procurar grupos de apoio e buscar ajuda de um psicólogo/a especializado/a em casos de narcisismo.


  • NEGOCIAÇÃO.

A pessoa chega a um ponto em que percebe que, apesar da raiva ter ajudado na transição, na mudança e em ter uma nova perspectiva da realidade, ela não foi eficaz ao confrontar o/a narcisista, fazer com que ele/a assumisse responsabilidade ou culpa por suas ações, e muito menos em convencer outras pessoas sobre a toxicidade do narcisista. Além disso, a raiva consome muita energia e deixa a pessoa exausta. É nesse momento que ela/e entra na fase de negociação.

Nessa fase, a pessoa tenta salvar o que pode, conciliar ambas as realidades e fazer o/a narcisista enxergar a sua nova realidade, buscando justificativas. Ela/e também tenta preservar o que resta do relacionamento, que está gravemente afetado, na esperança de evitar mais sofrimento e encontrar uma certa harmonia.

No entanto, a pessoa logo percebe que negociar com o/a narcisista não funciona, pois ele/a não está interessado em esclarecer o que aconteceu, chegar a um acordo ou assumir qualquer responsabilidade. Tentar negociar com o narcisista apenas resulta em mais confusão, humilhação, drama e dor.

Apesar de estar firme em sua nova realidade, a pessoa começa a perder forças, pois sente que tentou de tudo para mudar a situação, fazer o narcisista enxergar sua perspectiva e melhorar o relacionamento. A desilusão aumenta e a frustração toma conta, pois ela/e acredita ter esgotado todas as possibilidades de ação e sente que não conseguiu nada.

Essa fase é o último recurso para a antiga realidade, o relacionamento anterior e as crenças que o sustentavam. Isso marca a "morte" da velha realidade em que a pessoa viveu, assim como das crenças que a sustentavam. Ela/e não tem mais energia para tentar salvar o que ficou para trás, sente-se esgotada/o e, consequentemente, entra na fase da depressão.


  • DEPRESSÃO

Na fase da depressão, você percebe que a sua antiga realidade era uma ilusão completa e que estava totalmente enganada/o. Essa realidade anterior era falsa e tóxica. Ao chegar a essa consciência, você se sente sem energia para agir, tende a se voltar para dentro de si, refletir sobre o que funcionou e o que não funcionou. A pessoa se sente deprimida, exausta e tem a sensação de ter sido traída/o por si mesma /o (por ter acreditado em tudo aquilo).

O desespero que você está passando leva a pensamentos de desânimo e desalento, como: "Estou tão triste, por que me preocupar com qualquer coisa?" "Aquela pessoa nunca me amou, então qual é o sentido de tudo isso?" "Eu não posso continuar, por que continuar assim?"

Com a "morte" dessa realidade, do relacionamento e das crenças nas quais você acreditava, também se foi a energia e a motivação que estavam ligadas a essa realidade. Existe uma tendência em querer ficar em silêncio, se retrair e permitir-se sentir tristeza e melancolia.

Embora essa fase possa parecer irrelevante, ela é extremamente importante para uma nova reorganização interna, para abandonar qualquer idealização anterior, voltar a ter os pés no chão, reunir forças e acumular nova energia interior para finalmente aceitar a sua nova realidade e construir seus novos valores (as novas crenças que irão direcionar a sua nova vida).


  • ACEITAÇÃO

Nesta fase, a pessoa permite-se olhar ao seu redor e enxergar a realidade diante dela/e. Ela/e aceita que o/a narcisista nunca vai mudar; que o/a narcisista nunca a/o amou e nunca amará; que nunca obterá responsabilização por parte do/a narcisista pelo sofrimento que enfrentou. No entanto, junto a tudo isso, ela/e começa a aceitar a si mesma/o, reconhecendo que tem o direito de se amar, cuidar de si e ser quem realmente é.

Com a aceitação, vem a capacidade de sentir-se confortável com a nova realidade, de estabelecer seus limites e valores pessoais, de traçar novas metas que guiarão sua nova vida.

Nessa fase, também surge a compaixão por si mesma/o pelo caminho percorrido, pela coragem de seguir em frente, por tudo o que foi feito e pela transformação que ocorreu. Isso marca o início da reconstrução do amor próprio, da autoestima perdida.

Pensamentos como "Tudo vai ficar bem", "Não posso lutar contra o que aconteceu, mas posso me preparar para o futuro", "Tenho que focar no que está adiante e seguir em frente" começam a surgir. É nesse momento que as pessoas ao redor começam a perceber algo muito diferente. A pessoa já não é mais a/o mesma/o de antes.

Com a aceitação, tanto interna quanto externa, ocorre uma nova integração no nível do Eu Profundo, na forma como nos relacionamos conosco mesmos e uma sensação de paz interior, bem como a capacidade finalmente adquirida de receber e dar amor de maneira equilibrada.

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